Telepatia e tecnologia embalam comédia romântica sci-fi

Conhecer alguém, se apaixonar, começar um namoro e, finalmente, planejar uma cirurgia no cérebro que faça um experimentar os sentimentos do outro.

No mundo imaginado pela autora americana Connie Willis para seu romance “Interferências” (editora Suma), isso é possível e está na moda entre as celebridades e o pessoal do vale do silício.

É assim que a personagem principal, a jovem Briddey, vai parar em uma mesa de cirurgia para fazer um EED –nome que Connie deu à cirurgia que faz o cérebro do crush entrar em sintonia com o seu.

A ideia foi de seu namorado, o executivo de tecnologia Trent, que trabalha na mesma empresa de telecomunicações que ela, a Commspam. Mas, em vez de se conectar com o namorado, Briddey cria uma ligação muito mais forte do que a prevista pelo tal EED. Só que não com Trent.

Logo depois do procedimento, ela começa se comunicar por pensamento com o cara mais estranho da empresa, um rapaz descabelado chamado C. B. Schwartz. Depois de alguns dias, Briddey passa a escutar pensamentos de desconhecidos também, consolidando a telepatia adquirida misteriosamente após a cirurgia.

A escritora é veterana na ficção científica. É dela o elogiado “O Livro do Juízo Final”, também publicado no Brasil pela Suma. Mas “Interferências”, impresso originalmente em inglês em 2016, dividiu as opiniões dos fãs e de críticos pelo mundo.

Parte disso vem da tentativa de construir uma narrativa incomum dentro do gênero. “Interferências” é uma história de amor. Há tecnologia e especulações científicas, mas ainda é uma história de amor que poderia virar um filme da Sessão da Tarde.

A autora tem uma escrita ágil e certamente algumas risadinhas vão aparecer durante a leitura. Entretanto, se prepare para a torrente de pensamentos –os da personagem principal e os de centenas de pessoas que ela é capaz de ouvir. Pode desanimar os leitores menos pacientes.

A grande quantidade de referências do universo da tecnologia surpreende, ainda mais quando se considera que Connie escreveu a história quando tinha 70 anos, em 2016. A intenção por trás de boa parte desses comentários e da enxurrada de pensamentos que ataca Briddey, o leitor poderá descobrir, é bastante educativa.

Connie quer chamar a atenção para a velocidade e a superficialidade com as quais nos comunicamos hoje. Mandar uma mensagem de texto ficou tão instantâneo quanto pensar. O ato de conversar se desvencilha do contato visual e do movimento da boca cada vez mais –e esse parece ser o futuro dos humanos.

“As pessoas se comunicam demais”, conclui um dos personagens em um dado momento. Depois de ler as mais de 450 páginas de “Interferências”, o leitor pode chegar a considerar deixar o smartphone um pouco de lado também.

Capa de "Interferências", da autora americana Connie Willis (foto: divulgação)
Capa de “Interferências”, da autora americana Connie Willis (foto: divulgação)

INTERFERÊNCIAS (CROSSTALK)

AUTORA Connie Willis

TRADUTORA Viviane Diniz Lopes

EDITORA Suma 

QUANTO R$ 59,90 (464 págs.); R$ 39,90 (e-book)

 

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