Philip K. Dick mostra futuros possíveis em livro de contos “Sonhos Elétricos”

O produtor Michael Dinner (Anos Incríveis) reuniu um grupo diverso de roteiristas com a missão de adaptar para a TV contos de Philip K. Dick (1928-1982). O resultado do projeto pode ser visto na série antológica “Philip K. Dick’s Electric Dreams” (sonhos elétricos de Philip K. Dick), disponível no serviço de streaming Amazon Prime Video.

Agora, as histórias originais que inspiraram os dez episódios de “Electric Dreams” chegam ao Brasil na edição “Sonhos Elétricos” (editora Aleph).

Além dos contos, o livro também traz textos com a visão dos roteiristas responsáveis pelas adaptações.

Um deles é Jack Thorne, o britânico responsável pelo texto da peça “Harry Potter e a Criança Amaldiçoada”, que roteirizou o conto “O Passageiro Habitual” (“The Commuter”) para a série.

Na história original, um passageiro aparece em uma estação de trem insistindo por um bilhete para uma cidade que não existe –pelo menos no universo que conhecemos. Intrigado, o bilheteiro resolve investigar o caso e acaba descobrindo uma realidade paralela.

Na série, a trama sofreu poucas modificações: ganhou um ar contemporâneo e um desenvolvimento maior de personagens como o filho do bilheteiro, um garoto inexpressivo no conto que se tornou um adolescente instável emocionalmente na série.

“Como alguém que já leu muita ficção científica, acredito que exista uma diferença entre escritores que têm ideias e escritores que constroem mundos. PKD constrói universos”, diz Thorne em sua introdução ao conto no livro.

Mas “O Passageiro Habitual” é um dos raros trechos da coletânea que não falam sobre tecnologia e futuro. Os temas são revirados por PKD em outras sete breves distopias presentes na obra.

A narrativa “Foster, Você Já Morreu”, que virou o episódio “Safe and Sound” na série, tem esse jeitão distópico. O episódio conservou poucos elementos do texto, como a sociedade futurista cercada pelo medo de invasores invisíveis –talvez inventados. Os personagens e os cenários, entretanto, ficaram irreconhecíveis no programa.

Essas releituras da obra de PKD aparecem, em menor ou maior grau, em todos os episódios. As mudanças não chegam a descaracterizar o trabalho do escritor. Elas evidenciam o que o leitor de “Sonhos Elétricos” poderá notar desde as primeiras páginas:  a atualidade das histórias.

Ao especular sobre o futuro e as implicações da tecnologia, os textos de PKD ainda são capazes de fazer refletir sobre o que está por vir.

O mundo abarrotado de propagandas do conto “Argumento de Venda” (aliás, outro conto que ficou desfigurado na série), no qual robôs são programados para fazerem propaganda de si mesmos e se venderem, expõem a preocupação que o autor nutria em relação ao consumismo crescente nos Estados Unidos da década de 1950.

O ritmo de consumo atual –e a quantidade de lixo que ele gera, prejudicando o ambiente– provavelmente deixariam PKD de cabelo em pé.

Depois de passar por essas dez histórias, o que mais se destaca é a capacidade que o autor tinha de expor e questionar o que é ser humano.

PKD coloca os personagens em mundos muito diferentes e, algumas vezes, até absurdos. Ao mesmo tempo, pessoas continuam sendo pessoas, enfrentando os mesmo dramas, seja na Terra ou em outro planeta, hoje ou daqui a milhares de anos.

 

Capa de "Sonhos Elétricos", do escritor americano Philip K. Dick (Foto: divulgação)
Capa de “Sonhos Elétricos”, do escritor americano Philip K. Dick (Foto: divulgação)

 

“SONHOS ELÉTRICOS” (“ELECTRIC DREAMS”)

AUTOR Philip K. Dick

TRADUTOR Daniel Lühmann

EDITORA Aleph

QUANTO R$ 49,90 (274 págs.); R$ 29,90 (e-book)

 

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