Pesquisador defende em livro que sci-fi atual nasceu com Reforma Protestante

Uma nova visão do universo, surgida no renascimento intelectual que seguiu a Reforma Protestante, no século 16, foi o que tornou possível a ficção científica e especulativa como conhecemos hoje, segundo o pesquisador do tema Adam Roberts.

A ideia é defendida por ele no livro “A Verdadeira História da Ficção Científica” (editora Seoman; R$ 75; 704 págs.), lançado no Brasil no fim do mês de abril.

As teorias sobre o sistema solar trazidas pelo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) e aprimoradas pelo alemão Johannes Kepler (1571-1630), tiraram a Terra do centro do universo e a substituíram pelo sol, contrariando o que era estabelecido na doutrina católica da época.

A resistência contra as novas ideias era enorme no mundo católico. Em 1600, a Inquisição condenou à morte na fogueira o filósofo italiano Giordano Bruno (1548-1600) por pregar que o universo era infinito e continha uma infinidade de mundos –conceitos propulsores da ficção científica moderna, mas que eram opostos às crenças da igreja.

Em países protestantes da Europa, como Inglaterra, Holanda e partes da Alemanha de Kepler, a especulação científica enfrentou menos repressão e floresceu. De acordo com Roberts, esse ambiente mais livre ampliou o poder de imaginação e deu origem a histórias com jornadas fantásticas para a lua ou outros planetas, onde encontros com espécies não humanas poderiam acontecer.

Uma dessas obras é “O Sonho”, um pequeno conto no qual Kepler descreve uma viagem à lua realizada de maneira obscura e sobrenatural. O texto tem uma tradução para o português feita pelo professor de física Jair Ribeiro que pode ser lida gratuitamente na Revista Brasileira de Ensino de Física.

Embora os meios que tornam a jornada possível não sejam tão científicos assim, o legado teórico do alemão é um dos pilares da ciência moderna.

As três leis da física que levam seu nome descrevem com precisão os movimentos dos planetas em torno do sol e inauguram uma nova época no conhecimento espacial –muitos anos mais tarde, elas foram essenciais para levar o homem até a lua no mundo real.

Outras histórias do período e até mais modernas tentam conciliar as descobertas científicas e a religião. Nessas narrativas, os autores faziam certa ginástica para explicar como um universo com vários mundos poderia ter apenas um salvador nos moldes cristãos.

Mas o livro de Adam Roberts faz mais do que propor uma nova interpretação sobre as origens do gênero. Nas mais de 700 páginas, o autor, que é professor de literatura na Universidade de Londres e tem histórias sci-fi publicadas, apresenta o tratado mais completo sobre o tema feito até agora.

Desde as narrativas de fantasia da Grécia antiga até as mais recentes produções literárias e audiovisuais de ficção científica, Roberts traz uma pesquisa ampla e contextualizada sobre o que proporciona o sucesso de histórias aparentemente tão distantes da nossa realidade.

O Brasil não ficou esquecido. Na edição publicada no país, os textos de Braulio Tavares, Silvio Alexandre e Gilberto Schoereder, três dos maiores divulgadores dessa arte por aqui, mostram um pouco do panorama da produção do gênero neste que um dia já foi chamado de “país do futuro”.

 

Capa do livro "A Verdadeira História da Ficção Científica", do britânico Adam Roberts
Capa do livro “A Verdadeira História da Ficção Científica”, do britânico Adam Roberts (foto: divulgação)

A VERDADEIRA HISTÓRIA DA FICÇÃO CIENTÍFICA (THE HISTORY OF SCIENCE FICTION)

AUTOR Adam Roberts

TRADUTOR Mário Molina

EDITORA Seoman

QUANTO R$ 75; 704 págs.

 

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