Ficção científica contemporânea encara a Lua com escapismo e melancolia

A empolgação do pouso lunar, feito pelos americanos no dia 20 de julho de 1969, desbotou com o tempo. Nas obras contemporâneas de ficção científica que falam sobre o satélite, a exploração dos recursos naturais dali é uma fronteira triste que a humanidade precisa cruzar quase a contragosto para sobreviver.

A conquista da Lua ganhou um novo sentido com a possibilidade de fazer mineração no solo do satélite para extração de materiais que alimentariam a nossa indústria, aqui na Terra. Mais um campo aberto para a interferência humana.

Em “Lunar” (2009), do diretor Duncan Jones, Sam Bell (interpretado pelo ator Sam Rockwell) é um astronauta que vai à Lua para trabalhar com mineração. Isolado, ele chega ao fim de seu contrato de três anos completamente esgotado.

O trabalho de Sam é essencial para a vida na Terra, coletando o Helio 3, elemento que se tornou, nesse futuro, a principal fonte de energia do planeta. Todo o contato que tem com os terráqueos é via mensagens gravadas em vídeo por sua família e enviadas a ele periodicamente.

É nesse momento final de sua jornada de trabalho que a paranoia toma conta de Sam e a paisagem desoladora da Lua vira um cenário de impacto para uma crise existencial, que passa também por uma reflexão sobre a fragilidade da vida dos humanos na Terra. Ao ver o filme, terminamos com uma pergunta: até onde iríamos para mantermos o nosso planeta?

A exploração dos minérios lunares é também tema central em “Artemis”, livro publicado em 2017 por Andy Weir (“Perdido em Marte”), que ganhou uma edição brasileira neste ano. Na história, Jazz é uma moradora de Artemis, cidade fundada na Lua para servir de base às atividades de mineração. Dotada de uma inteligência acima da média, ela faz seus bicos legais e ilegais para juntar dinheiro e ter uma vida mais confortável.

Apesar de indicar um futuro com mais tecnologia, o livro acrescenta uma pitada cyberpunk, mostrando que a distribuição dessas inovações e as melhorias na qualidade de vida não são para todos. Jazz, por exemplo, vive em um cubículo onde mal consegue ficar de pé, os banhos são trabalhosos e escassos, e a alimentação é precária.

Os ricos que vivem ali e os turistas milionários que podem passar temporadas no satélite, no entanto, têm acesso a todas regalias imagináveis. Essas pessoas escolhem ir para a Lua para viver um sonho e escapar da realidade na Terra.

Essas duas obras, que já figuram entre os trabalhos mais importantes da ficção científica contemporânea, trazem um tom diferente do livro aventureiro “Da Terra à Lua” (1865), de Júlio Verne, ou de “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, icônico filme de Kubrick de 1968. O clima de exploração e descoberta diminuiu após a tão almejada conquista do satélite. Os mistérios que esperávamos encontrar ali não se manifestaram no fim das contas.

Mas a ficção científica, perene como é, se reinventa e encontra novos ângulos para retratar um mesmo objeto de interesse. As obras recentes que se passam na Lua tentam mostrar modelos de interação entre os homens e o satélite, agora com uma visão menos otimista. Elas também soam como um alerta de que, talvez, seja melhor deixar a Lua em paz.

 

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